Carregar ressentimentos é permanecer prisioneiro de histórias mal resolvidas. O perdão, ao contrário, é a chave que abre as portas da liberdade. Não se trata de esquecer ou absolver, mas de deixar para trás o que já não serve. Essa é a difícil arte que vamos explorar aqui.
Este texto, escrito originalmente em 2009 e resgatado após anos perdido, ganhou nova vida graças à Soraia, do Arcano 19, que me enviou cópias de antigas publicações. Revisitar estas palavras agora é também um exercício de perdão e liberdade. Que possam servir a você como serviram a mim.
“Vambora” desse Egito
Estamos no mês judaico de Nissan. É o período que traz a energia necessária para “sair do Egito em direção à Terra Prometida”. Esta semana, celebra-se Pessach.
“Egito” e “Terra Prometida” não são locais geográficos, mas estados da mente. “Egito” simboliza tudo aquilo que nos limita ou escraviza. Lembre-se que os hebreus foram escravizados pelos egípcios por 400 anos. Mitzrayim (מִצְרַיִם) é a palavra hebraica para Egito, que se estende metaforicamente para significar uma “passagem estreita”.
Pensando nos caminhos que nos tiram desse Egito interior, surge o tema do perdão. Conseguir perdoar pode ser simples para alguns e um grande desafio para outros.
Perdão, essa coisa estranha
Perdoar ou não perdoar não define ninguém como bom ou mau. Todos carregamos feridas desde a infância, que se manifestam como defesas mal-ajustadas. Elas tentam nos proteger da dor, mas acabam gerando mais dor.
Perdão é assunto delicado. Quanto mais precisamos dele, mais resistimos a compreendê-lo. Não adianta insistir em convencer alguém: é preciso lançar sementes e esperar o tempo certo para germinarem.
Já ouvi de tudo: pessoas que se recusam a perdoar porque “quem erra uma vez, erra duas”; outras que esperam por uma Justiça Divina que vingue suas dores; pessoas espiritualizadas que pedem para que seus mentores perdoem por elas; e até quem perdoa com um roteiro pré-estabelecido — se o outro não segue, a situação volta a azedar.
O perdão não é para o outro

Duas citações ajudam a esclarecer o ponto. No seriado Eli Stone, um pastor afirma: “Perdão não é um presente para os outros, é para nós mesmos”. Osho acrescenta: “o verdadeiro desafio é perdoar justamente quem não merece”.
Perdoar não é esquecer, mas deixar para trás. Não implica absolver, reconciliar, ser fraco ou superior. O não-perdão nos aprisiona em histórias mal resolvidas, com impacto inevitável em nossas vidas.
Perdão também se aplica a nós mesmos. Ficamos ruminando erros, revivendo-os como um disco arranhado. Daí vem o ressentimento: “sentir novamente”.
O apego existe tanto no desejo quanto na aversão
Leslie Temple-Thurston ensina que precisamos “abandonar a maneira como contamos uma história para nós mesmos”. Aquilo que criamos pode ser reescrito. É uma liberação de energia que nos prende.
No Pranic Healing (ou Pranaterapia), trabalha-se o rompimento desses elos psíquicos. Ao romper o grilhão, a percepção muda, a ferida cicatriza e resgatamos o livre-arbítrio.
É claro que não querer perdoar também é uma escolha. Mas enquanto vibramos em sentimentos negativos, limitamos nossa forma de agir no mundo. Muitos acabam se definindo pela dor, de tão envenenados.
O que eu quero é ser feliz
Talvez você ache que só você sabe a dimensão do mal que lhe fizeram. Mas, se reconhece que este sentimento tem efeito nocivo e precisa ser superado, já deu o primeiro passo.
O perdão pode ser exercitado diariamente, até como disciplina. Entre os judeus, existe uma oração antes de dormir chamada Hareni Mochel:
“Eu perdoo a todo aquele que me magoou e me zangou, ou que me fez mal, tanto ao meu corpo quanto à minha propriedade, à minha honra e tudo que eu possuo; tanto contra a sua vontade ou com a sua vontade, tanto sem querer quanto premeditadamente, tanto com palavras quanto com ações; enfim, peço para que nenhum ser humano seja castigado por minha causa”.
Praticada com sinceridade, essa prece é transformadora. Ajuda a compreender que não-perdoar é permanecer no Egito. Queremos, ao contrário, chegar à terra que “emana leite e mel”, um estado mental acessível aqui e agora.
Óleos e florais no processo do perdão
Alguns óleos essenciais são aliados no processo. O Cedro (Cedrus atlantica) é associado ao perdão. Aplique duas gotas, diluídas em óleo carreador, sobre o diafragma, mentalizando a dissolução de nós emocionais.
A aromaterapeuta Gorethi Moura sugere outros óleos e o floral Dagger Hakea.
A Carol Arêas, do blog Terapia Floral, também recomendava Florais de Bach como:
- Willow: para ressentimento, amargor e vitimização, ajudando a assumir responsabilidade e olhar a vida com mais positividade.
- Beech: para os críticos e intolerantes, despertando aceitação, compaixão e a capacidade de perdoar.
Que cada um possa sair de seu Egito em direção à liberdade que nos torna plenos. Chag Pessach Sameach!
Possam todos se beneficiar!











