Tirei duas cartas como mensagem nessa Quarta-Feira de Cinzas: o Medicine Guardian, do Angels and Ancestors, e o 5 de Paus, do Animal Totem Tarot.
O Guardião da Medicina não promete cura, mas lembra que ela vem quando estamos atentos às informações que surgem de dentro. A correção não é algo que alguém traz de fora — é a consciência que abre caminho de volta ao estado natural de totalidade.
O 5 de Paus no Animal Totem é representado pelo Ratel, também conhecido como Texugo do Mel. Cinco bastões apontados contra ele tentam contê-lo. É bem diferente da versão clássica de Waite-Smith, com jovens medindo forças em disputa supostamente amistosa.
A agressividade do Texugo do Mel
O Ratel é famoso por sua coragem: enfrenta leões, hienas e cães selvagens. Um animal pequeno que não se intimida com predadores muito maiores. O termo que mais aparece para descrevê-lo é “agressividade”.

Na maior parte das vezes, chamar alguém de agressivo carrega peso negativo. Mas é preciso relativizar: sem alguma dose de agressividade, ficamos sem reação diante do mundo. É ela que nos permite defender uma necessidade vital, contestar, nos expor, colocar a cara no jogo.
Essa energia aparece no 5 de Paus como disposição para confronto, não necessariamente violência. É a recusa a viver acuado.
Jean-Marie Muller, em O princípio da não-violência: uma trajetória filosófica, mostra que agredir originalmente significava tão somente “caminhar em direção ao outro”. Só mais tarde o termo se tornou sinônimo de ataque. Agressividade, nesse sentido, é movimento, presença, não necessariamente hostilidade.
Paracelso, séculos antes, já lembrava: “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”.
Quando a agressividade vira violência
A questão está justamente na dose. Agressividade em excesso se torna violência: força que não abre espaço para o outro, mas o destrói. É aí que entra o valor da Comunicação Não-Violenta (CNV) — não para nos tornar dóceis, mas para ensinar a colocar limites e desejos sem esmagar ninguém.
No manual do Animal Totem, o Texugo do Mel é chamado de badass, o durão autossuficiente. Mas esse rótulo é perigoso: empurra para o ideal de dureza constante, como se a única saída fosse radicalizar na ponta da violência.
Na “régua da agressividade”, temos em um extremo a dificuldade de se posicionar e, no outro, a imposição pela ameaça ou pelo dano. Em uma posição mediana e flutuante, a assertividade: capacidade de negociar, ceder quando faz sentido, sustentar quando é preciso. O sinal de equilíbrio é quando conseguimos discordar sem que isso vire raiva ou angústia.
A posição mediana é flutuante porque cada situação exige o seu devido ajuste. Mas se não conseguimos nem nos colocar, acabamos reféns do medo. Se passamos da medida, viramos predadores.
O convite do Guardião da Medicina é refletir sobre em que ponto da régua você se encontra. Algumas dessas questões podem ser trabalhadas em processos terapêuticos, justamente porque não é simples elaborar sozinho. Reconhecer a dificuldade já é um movimento de cura.
Possam todos se beneficiar!











