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Aconselhamento no Tarot: responsabilidade, ética e impacto das palavras

Quero escrever rapidamente sobre uma questão que envolve a arte do aconselhamento e tem me incomodado bastante. Serve tanto para quem procura a orientação do oráculo quanto para quem trabalha com um.

É muito comum que consulentes imaginem que todo oraculista seja alguém com mediunidade. Alguns são procurados porque se conta com isso, inclusive. Nas feiras, pessoas fantasiadas atraem mais clientes, exceto se o profissional tiver um nome consolidado. São contingências de um segmento com muitos mitos.

O que desejo abordar, de verdade, independe se o indivíduo tem ou não algum dom — até porque, não precisa ter. Meu ponto é o cuidado junto ao consulente que, muito provavelmente, acha que isso é algo “inerente à função”. Sabemos que não é. Nem todo mundo que estuda tarot, por exemplo, é ou será um bom intérprete, mas mediunidade não é pré-requisito. Ajuda, mas, na maioria das vezes, faltam habilidades que são mais importantes.

A força do que você diz

Uma cliente retornou depois de alguns meses e disse que uma determinada situação permanecia igual. Queria saber do momento, mas eu tinha isso na memória e perguntei a respeito. Para resumir, ela recebeu uma orientação das cartas e, neste intervalo, também consultou uma astróloga. Não sei como essa pessoa trabalha. Ao saber do problema, sentenciou: “Eu, no seu lugar, não faria nada. Ele pode matar você”. Não, não era uma questão de ordem afetiva, mas envolve um oponente rude.

Da forma como a cliente reproduziu a conversa e pelo que conheço de astrologia, esta profissional emitiu um parecer estritamente pessoal. Talvez estivesse projetando seus próprios medos. Talvez estivesse somente preocupada. Não sei. O fato é que uma única frase definiu o que a consulente faria — e sem explicações. Melhor: o que ela não faria. Aí veio o que eu mais ou menos esperava: “vai que ela falou isso porque estava vendo alguma coisa além”.

Aqui está o ponto: palavras têm peso de destino na mente de quem consulta. Quando um profissional diz “ele pode matar você”, mesmo que seja fruto de medo pessoal ou uma força de expressão, essa frase se instala como sentença. O problema que poderia estar resolvido continuou gerando dor porque o aconselhamento agora foi desistir. Por quê? Porque o fantasma do “vai morrer” foi plantado, cresceu e deu frutos. As cartas, sozinhas, jamais sustentariam esse medo.

O que eu acho?

Em duas aulas distintas, a mesma situação. Na primeira, eu comentava sobre o número crescente de mulheres em relacionamento com homens muito mais velhos. Como exemplo, falei de uma cliente que precisava decidir se estava disposta a abdicar da maternidade. Seu parceiro já foi casado e havia deixado claro não desejar mais filhos. Ela gosta dele agora, mas será que não se arrependeria no futuro? Uma aluna falou que isso era tolice e apresentou pontos baseados na própria experiência. Uma segunda argumentou entender o caso porque viveu situação semelhante, levantando prós e contras. Acredito que as duas conduziriam o aconselhamento tal qual demonstraram em aula, como quem toma café com uma amiga, e não como se orienta por uma ferramenta.

Poucos dias depois, em outra atividade de grupo, interpretávamos o jogo de uma aluna que passava por um dilema. Choveram palpites e exemplos pessoais. Todo mundo sabia o que ela deveria fazer.

Nas duas ocasiões falei que a única orientação que interessava era a das cartas. Que o que eu havia dito até então (especificamente nessa segunda aula) era baseado no que o jogo contava. Mostrei para o grupo onde estavam as informações que costuravam o discurso, como é de praxe nas Oficinas de Tarot — uma atividade que eu facilitava e não existe mais.

No dia a dia, até construo uma resposta na minha cabeça ao ouvir o problema, mas, não raro, as cartas sinalizam algo diferente. Não se trata de lógica. O que o consulente narra é o ponto de vista dele e o que deve prevalecer é a sabedoria do tarot — a pessoa te procurou para isso.

De onde vem o aconselhamento?

As pessoas procuram por um norte quando se sentem perdidas. Os oráculos, no passado, traziam a voz dos deuses sobre uma questão. Em outras palavras, não se deseja uma perspectiva humana, mas divina. E onde está este divino? Estaria nas cavernas, nos poços ou no fogo? Não, está em cada um de nós.

Da maneira como vejo, a resposta nem está no oraculista, mas no próprio consulente — é muito importante que isso fique claro! O aconselhamento vem da neshamá dele, não da minha. Neshamá, para o judeu, é o aspecto mais elevado da alma. É essa neshamá que seleciona as cartas. Eu, oraculista, apenas as interpreto, pois conheço os códigos — e posso ir um pouco além em contato com a minha própria neshamá. É necessário, contudo, que eu me coloque em uma condição de neutralidade para evitar ruídos.

Estou nomeando neshamá o que tem outras denominações em diferentes campo de conhecimento.

Se o cliente quisesse uma opinião pessoal, perguntaria a amigos ou pagaria por um consultor especializado no tema em pauta.

Como conduzir um aconselhamento?

1. Começando pelo básico, leia as cartas. Faça isso da forma mais impessoal possível. Não falo sobre ser simpático ou não. Uma atitude acolhedora é sempre bem-vinda. Apenas coloque as coisas sem julgamentos. Não importa o quanto você seja inteligente ou vivido, as respostas estão nas cartas.

2. Você está lendo para outra pessoa, não para você. Suas experiências não são a régua para medir a vida do outro.

3. Cuidado com os exageros e generalizações. Atendendo, atenção redobrada com as palavras e o tom com as usa. O que para você “é só uma forma de falar” pode ser levado ao pé da letra pelo outro. Generalizações nunca cabem em aconselhamento sério. Se a frase começa com “todo (inclua aqui um grupo)”, ela já está errada.

4. Perceba o perfil do seu consulente. Alguns são dramáticos, outros facilmente impressionáveis. Perguntar “o que você entendeu do que eu disse?” pode evitar mal-entendidos.

5. Não ocupe o tempo do cliente com suas histórias. Se um “causo” ajudar, ótimo. Se não, guarde para outra ocasião.

6. Quer contar histórias? Use as cartas para isso. Descreva imagens de arcanos, elas ilustram melhor do que experiências pessoais.

7. Separe o que é você e o que é o jogo. Se um comentário for pessoal, explicite: “isso sou eu falando, não as cartas”.

8. Troque certezas por perguntas. Convide o consulente a refletir cenários em vez de ditar conclusões.

Estou no papel de consulente, o que faço?

1. Nem todo oraculista tem “visão além do alcance”. Questione com naturalidade.

2. Nunca consulte alguém tomado pelo medo. O medo distorce a escuta. Espere estar mais tranquilo.

3. Traga sua pergunta ou contextualize de forma breve. Deixe que as cartas tragam os detalhes. Falar demais toma tempo da consulta e fornece informações que podem influenciar a interpretação.

4. Se o profissional estiver com muitas histórias, corte com educação. Isso mantém o foco no jogo.

5. Se algo não ficou claro, pergunte. Até mesmo quando a resposta parece óbvia. Transparência fortalece a confiança no aconselhamento.

Quer aprofundar?

O tema do aconselhamento toca diretamente a forma como lidamos com escolhas e responsabilidades. Se você deseja vivenciar isso na prática, pode agendar uma consulta ou acompanhar nossa agenda de workshops. E, claro, deixe nos comentários suas impressões: o que você considera essencial para um aconselhamento responsável? É na conversa que se constrói clareza.

Possam todos se beneficiar!

Destaque: Foto de Anete Lusina no Pexels.

Conteúdo revisado em 16/09/2025
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