Comecei este texto para o Instagram, mas percebi que ele não caberia em uma legenda de 2.200 caracteres. Então transbordou pra cá.
O começo do ano e o fim das ilusões
Primeiro de janeiro de 2022. Não estou muito otimista, confesso. Atualizando em 2025, tivemos a Pandemia de COVID-19, no Brasil, 26 de fevereiro de 2020 a maio de 2022, aproximadamente 9.923 mortes, conforme dados do Ministério da Saúde. Então, nesta ocasião, as coisas ainda estavam muito confusas.
O que é o Maha Lilah?
O Maha Lilah é uma ferramenta de autoconhecimento baseada em um tabuleiro com 72 casas. Cada casa traz uma mensagem. Tradicionalmente, joga-se com um dado, mas há versões modernas com deck, como a de Denise Mascarenhas, que utilizei para este exercício.

Foram sorteadas duas cartas/casas:
~ Lobha (4): onde estávamos no fim de 2021
~ Paramartha (27): onde podemos chegar em 2022
Ganância seguida de Altruísmo. Quase como transformar água em vinho. Mas acredito em milagres — então está tudo certo.
As ilustrações também chamaram atenção. Seria a mesma mulher? Na primeira, ela carrega bolsas de shopping; na segunda, latas de tinta. As cores das bolsas na primeira carta parecem escorrer das latas, na segunda. De consumidora a criadora.
Lobha: o desejo que nunca se sacia
Lobha é um dos seis inimigos da mente na tradição hinduísta (Arishadvarga) e uma das três raízes da maldade no budismo (Akushalamula). Traduz-se como “ganância” ou “cobiça”, mas o termo mais preciso seria “desejo sensual”.
No dia em que Júpiter entrou em Peixes, publiquei sobre o Koi Fish Spirit do Spirit Animal Oracle. A mensagem era clara: “há sempre o suficiente”. Lobha, porém, diz o contrário. Na casa 4, o jogador está sempre insatisfeito. Tem o que precisa, mas quer mais — o mantra do “nunca é o bastante”.
De onde vem esse desejo?
Duas possibilidades:
1. O vazio mal compreendido
Se você não recebe o que realmente precisa, tenta preencher o vazio com excessos que não saciam. Ou saciam por pouco tempo.
💡 Dica: Pergunte-se: do que você realmente sente falta? O que acha que a vida lhe negou desde a infância? Nem sempre a resposta é óbvia. Insista. Leve para terapia, se necessário.
2. A consciência de escassez
Você conquista algo e teme perder. Acredita que a vida não vai repor. O apego impede mudanças e cria a ilusão de controle.
💡 Dica: Desenvolva consciência de abundância. Confie que a vida supre o que é necessário quando estamos receptivos. Tudo é impermanente. Não aceitar isso é sofrer.
2021: um ano marcado por Lobha
Muita gente não reconhece sua própria ganância. Afinal, é um dos Sete Pecados Capitais. Pecador é sempre o outro, né?
Exemplos do cotidiano:
~ Permanecer em empregos que adoecem, mas pagam as contas.
~ Relacionamentos que não funcionam, mas são convenientes por diferentes motivos.
~ Medo de perder padrão de vida ou ficar sozinho.
Ganância não é só sobre dinheiro. Toda compulsão pode ser fruto de Lobha: por bens, comida, afeto ou sexo — a tentativa de preencher um vazio.
Paramartha: a visão suprema do altruísmo
A segunda carta, Paramartha, é um presente. No Maha Lilah, algumas casas fazem o jogador recuar; outras impulsionam para linhas superiores. Altruísmo é a última casa da terceira linha, conectada à casa 41, Jana-Loka, associada ao chakra laríngeo.
Paramartha representa a compreensão da realidade última: não existe “eu” e “outro”. É tema do chakra Manipura, que trata das relações de poder.
Harish Johari traduz como “Serviço Abnegado”. Beto Mancini explica: “Caridade é dar o que sobra. Altruísmo é dividir uma única fatia de pão.”
Para mim, não é sacrifício. É certeza de que a fonte da vida é inesgotável. A generosidade é o antídoto da avareza.
No Maha Lila — O Jogo Oráculo, Om Shanti substitui Altruísmo por “Servir”: o jogador age sem buscar recompensas, respondendo ao momento além da lógica de perdas e ganhos.
A primeira chave da ascensão: não creia em perda ou ganho
No livro Retornando à Unidade: As Sete Chaves da Ascensão, Leslie Temple-Thurston descreve a primeira chave entre o Vishuda (laríngeo) e o Ajna (frontal): não acreditar em perda ou ganho.
Essa perspectiva conversa diretamente com Paramartha. O altruísmo não nasce de cálculo — “se eu dou, fico com menos” — mas da percepção de que nada se perde de verdade. O que bloqueia é o apego, o mesmo que sustenta Lobha.
Ao aceitar essa chave, a lógica da escassez se dissolve. A generosidade deixa de ser risco ou sacrifício e se torna confiança. Transformamos consumidora em criadora, ganância em partilha, individualismo em comunhão.
Possam todos se beneficiar!
Destaque: Foto de divulgação de Denise Mascarenhas.











