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O mistério das chaves: de Pedro ao Tarot e ao Lenormand

Gosto muito de chaves antigas — pela forma e pelo simbolismo. Hoje, 29 de junho, é dia de São Pedro, o primeiro Papa e aquele que, segundo a tradição cristã, carrega as chaves dos Céus.

Nascido como Shimon, tornou-se Kepha (Pedro) quando Jesus disse: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt. 16:18). Ele se converteu, assim, em pedra fundamental de uma nova tradição. No versículo seguinte, Jesus declara: “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Daí a imagem de Pedro com duas chaves — uma de ouro e outra de prata.

Chaves que ligam e desligam

Essas chaves estão nos brasões do Vaticano e da Santa Sé desde Bonifácio VIII (1294–1303). Diz-se que uma representa a autoridade do Papa na terra, a outra nos céus. Mais do que símbolos de poder, elas remetem a uma lei espiritual: o que liga e desliga aqui, repercute lá.

Essa correlação, porém, não nasce no cristianismo. No judaísmo, desde a entrega da Torá no Sinai e das 613 mitzvot, já se falava em conexões entre céu e terra. O termo mitzvah (singular) é traduzido como “mandamento”, mas o certo é “conexão”. Das 613, 248 são positivas — ações que nos ligam a D’us — e 365 negativas — ações que nos desligam Dele. Ligar e desligar é, portanto, linguagem espiritual muito anterior a Pedro.

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Brasão do Vaticano

Também era linguagem jurídica. No tempo de Jesus, “ligar” e “desligar” significava permitir ou proibir, segundo o sanhedrim. Não havia meio-termo: ou estava dentro, ou estava fora da lei. Como no exemplo de uma criança que toca a gordura fervente — a consequência vem, independentemente da intenção ou da falta de conhecimento.

O portador da chave é aquele que decide. A chave conecta ou desconecta sem gradações. Daí a força dessa imagem quando pensamos em vida espiritual e em oráculos: observe a que você se liga por meio de pensamentos, palavras e ações.

As chaves no Tarot

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Oswald-Wirth Tarot

Pedro é representado com as chaves na mão direita (autoridade) e um livro na esquerda. No Oswald Wirth Tarot, porém, as chaves não estão no Papa, mas na Papisa. Além disso, há uma inversão: as chaves passam para a mão esquerda, o livro para a direita. Isso não é detalhe. Wirth via nas chaves de ouro e prata os princípios solar e lunar, razão e intuição. Somente a união dos dois permite acessar o conhecimento oculto.

No Rider-Waite, as chaves aparecem no brasão do Hierofante. Waite manteve a referência ao “poder das chaves”, ainda que tenha trocado o título da carta para evitar vinculação direta à Igreja. O Thoth Tarot, por sua vez, apresenta um cetro com três anéis — quase uma chave, mas não exatamente.

Mais uma vez, a Papisa se mostra guardiã mais intrigante: ela segura as chaves e pode ou não as estender ao neófito, como quem oferece a escolha. É uma cena que lembra Morpheus em Matrix com as pílulas azul e vermelha. Mas a armadilha é escolher: Wirth lembra que as chaves só funcionam quando unificadas. A iniciação não vem das palavras do Papa, mas do silêncio da Papisa.

A chave no Lenormand

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Lenormand Oracle Fortune Telling Cards

No Lenormand, a carta da Chave fala de solução, acesso e êxito. É a carta que abre ou fecha, que concede ou nega passagem. Numa Mesa Real, muitos leitores observam a carta próxima à “cabeça” da chave como quem a possui e a carta próxima à “língua” como aquilo que ela abre. É um exercício imagético interessante: a chave pode trazer revelações, liberar quem estava preso, ou aprisionar quem estava solto.

A chave também aparece como metáfora em leituras mais amplas: uma prece pode ser chave, um sigilo pode ser chave, um símbolo pode ser chave. A questão nunca é somente ter uma chave, mas ter a chave certa — aquela que encaixa na fechadura. Daí a associação com solução, resposta e acerto de caminho.

O simbolismo no cotidiano

Saindo do campo espiritual, toda chave continua a ter esse duplo papel: abrir e proteger. Trancar a porta de casa é defesa. Dar a chave a alguém é sinal de confiança. Receber a chave da cidade é honraria. Já “guardar a sete chaves” aponta para segredos valiosos.

Mesmo no mundo digital, isso persiste: senha, cartão de banco, código de acesso — tudo é chave. Algumas só nossas, outras compartilhadas. Quanto maior for o tesouro, mais chaves são necessárias. E, se não há a chave exata, há quem crie uma, forjando o acesso com talento.

Ainda que você não leia este texto no dia de São Pedro, fica o desejo: que o santo das chaves lhe conceda a que abre a porta que você mais precisa agora — seja na terra, seja nos céus.

Possam todos se beneficiar!

Destaque: São Pedro, no Pinterest

Conteúdo revisado em 17/09/2025
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