Quando comecei a aprender o Tarot, em 1989, me ensinaram que os quatro primeiros arcanos (Mago/1, Papisa/2, Imperatriz/3 e Imperador/4) representavam as energias dos quatro elementos: Fogo, Água, Ar e Terra.
Não de forma literal, mas com predominância. O Mago representa a ignição da jornada (Fogo), a Papisa evoca a Água do inconsciente, a Imperatriz traz o Ar da inteligência e do discernimento, e o Imperador traduz isso para a Terra, assumindo responsabilidade e proteção.
Diversidade de leituras e confusões

O Raziel Tarot, de Rachel Pollack e Robert Place, apresenta Miriam como Arcano III. Surgiram debates sobre se a Imperatriz seria Água ou Terra, evidenciando como atribuições externas ao Tarot geram confusão.
Atualização em 2025: as minhas contribuições, na ocasião, foram incluídas no manual com os agradecimentos da Rachel.
Outras escolas, como a Golden Dawn, atribuem o Mago ao Ar (Mercúrio) e o Imperador ao Fogo (Áries). Tarôs temáticos, como o Mitológico, reforçam estereótipos: Imperador “mulherengo” (Zeus), Carro agressivo (Marte). Esses exemplos mostram o perigo das atribuições forçadas.
O risco das correlações externas
Tentar justificar o Tarot por signos, letras hebraicas, planetas ou numerologia cria interpretações equivocadas. Explicações do tipo “o Carro sempre volta para casa, pois Câncer…” ou “a Temperança é Sagitário, logo…” empobrecem a leitura.
No caso da Temperança, a letra hebraica Samech rege o signo Sagitário e o Arcano XIV — conforme a escola inglesa. Mas seus atributos não se aplicam à carta; forçar isso resulta em imagens que contradizem a essência da lâmina.
O Tarot é um sistema completo
O Tarot funciona sozinho, como corpo de conhecimento. Pode dialogar com astrologia, cabalá ou mitologia, mas não depende de correlações forçadas. Símbolos tradicionais já oferecem aprendizado suficiente para consulta, previsão ou aconselhamento.
A profundidade da Papisa
A Papisa carrega os quatro elementos. Olhar para dentro: Água. Livro ou pergaminho: Ar. O templo que guarda: Terra. Luz perpétua no altar: Fogo. Ela não oferece conforto, mas direção. Mostra que o conhecimento deve ser vivido e aplicado, não apenas acumulado.
Conclusão
Foque no essencial. Cada lâmina possui símbolos suficientes para aprendizado e prática. O Tarot pode dialogar com outras artes, mas preservar sua singularidade mantém sua profundidade e evita distorções.
Possam todos se beneficiar!
Destaque: Foto de KoolShooters, do Pexels.












2 Comentários
As correlações com outros sistemas, ao invés de nos ajudarem a esclarecer o conteúdo das cartas, só atrapalham. A não ser que só usemos o Tarot do Crowley, por exemplo, e aí respeitemos essas associações como regra, inclusive e principalmente no plano imagético. Nesse caso, a associação do Carro com o signo de Câncer pode sim significar que para começar um empreendimento, um caminho, uma ação, é bom estar inteiro, com a carapaça, o corpo em ordem. Entronizado, como diz o próprio Crowley. E o Santo Graal e sua associação com a lua cheia (o Grande Mar de Binah) também propicia a interpretação que as emoções deveriam estar sob controle. Então, mais do que voltar para casa O Carro precisa saber SAIR de casa.
Baralhos temáticos ‘complexos’, por assim dizer, são ‘reinvenções’ da matriz com códigos próprios e precisam ser respeitados com esse olhar. A pessoa precisa ter consciência disso e não se deixar contaminar, pois corre o risco de fazer exatamente isso: o Carro é partida, mas, como também é Câncer, sempre volta. Isso é limar os atributos do arcano, agora transformado em um bumerangue. A letra Chet, regente de Câncer, fala, dentre outras coisas, de limites. É a cerca que separa as propriedades e estabelece um ‘dentro’ e ‘fora’, mas tem uma pegadinha de ‘dentro’, ‘fora’ e ‘além’ porque Chet também é oito e oito é um número que fala de transcendência. Algumas das celebrações judaicas têm oito dias porque evocam esta energia que está acima do mundo natural e suas regras. É um samba confuso mesmo.