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O Straif (Abrunheiro) no Ogham

Nos anos 90, publiquei o primeiro tutorial em português sobre o Ogham, quando ainda havia pouquíssima informação disponível em nossa língua. Mais de vinte anos depois, fui chamado para participar do Projeto Ogham Brasil, organizado por Osvaldo Feres, que reuniu diferentes oraculistas para criar um baralho coletivo.

Cada participante ficou responsável por uma fid. No sorteio, fui selecionado para falar de Straif, a décima quarta fid, associada ao Blackthorn (Prunus spinosa).

Por que abrunheiro, e não espinheiro negro

straif_oghambrasil-180x300 O Straif (Abrunheiro) no Ogham
Straif – Projeto Ogham Brasil

Nas publicações em inglês, encontramos Straif como Straif-Blackthorn. A tradução literal seria “Espinheiro Negro”, mas o correspondente botânico da Prunus spinosa em português é o Abrunheiro. Adotei esse nome porque, além de mais preciso, conecta a fid ao fruto real: os abrunhos, pequenas ameixas azuladas muito apreciadas por pássaros.

O contraste é marcante: flores brancas e delicadas, frutos silvestres, mas também espinhos grandes e duros, capazes de causar ferimentos sérios. Esses espinhos já foram usados no passado até para perfurar couro, reforçando o caráter defensivo da árvore.

Significado oracular de Straif

Em leituras, Straif fala de resistência e bloqueio. Um muro de espinhos separa você do que deseja. Forçar a passagem só gera dor e insucesso. A orientação é reconhecer o limite, aceitar que não é momento de avançar — ou mesmo admitir que aquele objetivo pode não ser viável.

Se aparece como conselho, Straif pede que você levante barreiras e se proteja. Use o simbolismo do abrunheiro tanto em ações práticas quanto em rituais de purificação e banimento. Observe, sobretudo, os espinhos internos: raiva, medo, ressentimento. Em alguns casos, Straif pode indicar que a defesa já não basta e que chegou a hora do confronto direto.

O shillelagh e a energia do confronto

Na Irlanda, a madeira do abrunheiro foi usada para fabricar shillelaghs — porretes curtos ou longos, às vezes disfarçados como bengalas, mas prontos para defesa ou ataque. Com ponta pesada e, em alguns casos, reforçada com chumbo, eram armas capazes de rachar crânios. O shillelagh se tornou símbolo da força e da resistência irlandesa.

Esse uso reforça a leitura simbólica: Straif não é apenas barreira passiva, mas também arma ativa. Se aparece numa leitura ligada a relações, negócios ou disputas, prepare-se para hostilidade, embates de poder e “troca de farpas”.

shillelagh O Straif (Abrunheiro) no Ogham
Blackthorn Shillelagh -Handmade in Ireland

Folclore e associações mágicas

Na tradição celta, o abrunheiro carrega má reputação: árvore de mau presságio, ligada à magia negra e aos seres do Outro Mundo. Não é acolhedora, mas desafiadora. A semelhança sonora com a palavra inglesa strife (“contenda”, “lut”a) só reforça essa atmosfera de conflito.

Ainda assim, Straif não é, necessariamente, uma sentença de derrota. Muitas vezes, aquilo que parece obstáculo ou ataque é, na verdade, proteção disfarçada. O muro de espinhos pode estar a seu favor: o que limita ou frustra pode forçar o desenvolvimento de novas competências, redirecionar energia ou simplesmente impedir um caminho nocivo. Uma porta fechada, nesse sentido, pode ser bênção — o que se deseja talvez não seja realmente benéfico.

Referências e materiais

Para se aprofundar, recomendo o livro Ogham – O Oráculo dos Druidas, de Osvaldo Feres, além de outros baralhos criados por ele, como o Crann Ogham – Celtic Oracle e o Ogham – Gods & Heroes, ambos disponíveis na Game Crafter americana.

Possam todos se beneficiar!

Destaque: Foto de Daniel Abbatt, no Pexels

Conteúdo revisado em 21/09/2025
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