A 8ª Mesa Redonda do Baralho Cigano, no Rio de Janeiro, aconteceu em 3 de agosto de 2019 e teve como tema Os Sete Pecados Capitais. Compartilho aqui o material que preparei, oferecendo reflexões sobre Orgulho e Vaidade, suas raízes históricas, psicológicas e simbólicas, e como elas se manifestam nas cartas do Lenormand.
Os sete pecados capitais e a origem do orgulho
No século IV, o monge grego Evagrius Ponticus (345-399) catalogou condutas repreensíveis aos olhos de D’us: Gula, Avareza, Luxúria, Ira, Melancolia, Preguiça, Orgulho e Vanglória (ou Vaidade). O Papa Gregório I, em 590, formalizou o conceito de “Pecados Capitais”, enquanto Tomás de Aquino (1225-1274), em sua Summa Theologica, destacou o Orgulho como raiz de todos os pecados, diferenciando-o da Vaidade.
É fundamental compreender que Orgulho e Vaidade não são sinônimos:
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- Vaidade indica uma busca externa por reconhecimento, baseada na aparência ou habilidades percebidas.
- Orgulho é o prazer legítimo ou egoísta com o próprio valor e mérito, podendo assumir caráter positivo ou negativo.
Orgulho no olhar budista
No Budismo, o Orgulho é um dos Venenos Mentais, chamado de Mana em sânscrito ou Nga Rgyal em tibetano. Ele se manifesta de formas variadas, desde o orgulho simples até o infundado, refletindo desde uma autoavaliação realista até arrogância plena.
Os sete tipos de Orgulho segundo a tradição budista são:
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- Orgulho simples: igualar-se aos pares, ignorando limitações pessoais.
- Orgulho maior: sentir-se superior aos iguais, ainda sem inflar o ego.
- Orgulho excessivo: distinguir satisfação pessoal de arrogância.
- Orgulho de pensar “eu existo”: atribuir à própria presença a razão de sucesso ou funcionamento das coisas.
- Orgulho flagrante: perceber qualidades superiores além do real.
- Orgulho de pensar-se inferior: falsa humildade que ainda mantém sentimento de superioridade.
- Orgulho infundado: orgulhar-se de atributos inexistentes ou de falhas, como assumir orgulho por preconceitos.
O Ambattha Sutta ilustra, ainda, o orgulho cego: Ambattha, erudito de alta casta, aborda Buda com superioridade, sem perceber a impermanência do corpo, sentimentos e consciência.
No Eneagrama
No estudo do Eneagrama, o Orgulho corresponde ao Tipo 2 – O Prestativo, enquanto a Vaidade se relaciona ao Tipo 3 – O Bem-Sucedido. A diferença está na motivação do ego: o Tipo 2 tende a usar seu esforço para conquistar aprovação ou controlar o outro, enquanto o Tipo 3 busca reconhecimento, status ou admiração externa.
Cada tipo possui um antídoto específico que permite o crescimento pessoal:
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- Orgulho (Tipo 2) → Humildade: reconhecer suas limitações e valorizar os outros sem se colocar acima.
- Vaidade (Tipo 3) → Autenticidade: agir de acordo com seus valores e essência, sem depender da validação externa.
Vaidade: a fixação do ego
A Vaidade é uma tentativa do ego de nos tornar interessantes aos olhos alheios, preenchendo uma sensação interna de insuficiência. Exemplos incluem exagero em atributos físicos ou intelectuais, ostentação de status ou conquista e dependência da aprovação externa.

No Lenormand, a Vaidade se expressa pelo Bouquet (aspecto positivo) e pela Raposa (aspecto negativo).
Bouquet: beleza efêmera e charme
O Bouquet simboliza leveza, alegria e estética passageira. Ele mostra que beleza, elegância ou bom gosto podem encantar, mas são temporários e superficiais se desconectados do conteúdo interno.
Exemplos de vaidade manifestada via Bouquet:
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- Ostentar diplomas ou títulos para impressionar.
- Florear discursos para parecer mais inteligente.
- Contrair dívidas ou exibir status financeiro para criar admiração.
- Demonstrar vida social ou experiências extraordinárias para encobrir sentimentos de insuficiência.
Raposa: astúcia e manipulação social
A Raposa alerta para a vaidade disfarçada de astúcia: elogios exagerados, bajulação e manipulação.
Exemplo clássico: A fábula da Raposa e do Corvo. O corvo é lisonjeado e cai na armadilha, ilustrando como a vaidade abre espaço para erros e exploração. Também a trama do filme The Devil’s Advocate (“O Advogado do Diabo”), que encerra com Al Pacino (o Diabo) afirmando: “Vaidade. Definitivamente o meu pecado favorito”.
No Lenormand, a Raposa simboliza manipulação social e cuidado estratégico, lembrando que vaidade exagerada pode gerar vulnerabilidade.
Como lidar com Orgulho e Vaidade
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- Desenvolver autoconhecimento e consciência das próprias necessidades emocionais.
- Meditar, praticar terapia e refletir sobre padrões de comportamento.
- Reconhecer e integrar vulnerabilidades, aprendendo com erros e limitações.
Brené Brown explica: “Viver é experimentar incertezas, riscos e se expor emocionalmente. A vulnerabilidade não é fraqueza, mas a melhor definição de coragem.”
No Budismo, Khenpo Ngawang Pelzang reforça:
“No momento em que você sente orgulho, falha em ver seus próprios defeitos e fica cego às boas qualidades dos outros. Para curar isso, reconheça suas limitações, desnude suas falhas ocultas e mantenha-se humilde.”
O caminho para a autenticidade é interno, um exercício contínuo de autodesenvolvimento que reduz a necessidade de performar para os outros.
Conclusão
Compreender **Orgulho** e **Vaidade** nos permite enxergar nossas tendências de comportamento, evitar armadilhas emocionais e cultivar virtudes que equilibram nossa vida interior.
Possam todos se beneficiar!
Acesse aqui o PDF completo da palestra sobre Orgulho e Vaidade
Destaque: material de divulgação da série Lúcifer.











