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Yoav Ben-Dov e a relação entre Tarot e o alfabeto hebraico

Meu primeiro contato com o Tarot, há mais de vinte e cinco anos, já veio acompanhado de muitos autores associando os 22 arcanos maiores às 22 letras hebraicas. Essa correspondência espertou em mim o interesse pelas otiot (“letras”, em hebraico) como se cada uma delas fosse também uma chave para o sagrado.

O problema é que os livros herméticos, embora íntimos do Tarot, nunca me deram respostas convincentes. Pareciam falar das letras por um buraco de fechadura: dava para ver que tinha alguma coisa ali, mas não o todo. E, de fato, a promessa de uma ponte sólida entre Tarot e letras hebraicas — o chamado Tarot Cabalístico — nunca se cumpriu.O que aprendi depois sobre as letras hebraicas teve respaldo em estudiosos da Torá, tanto escrita quanto oral. Isso trouxe alguma sustentação, ainda que limitada, porque permaneço sem dominar o idioma e, esse terreno, isso não é detalhe: é fronteira.

É aqui que a voz de Yoav Ben-Dov ganha peso. Israelense, aluno de Jodorowsky, autor do CBD Tarot de Marseille e do primeiro livro de Tarot em hebraico, ele olhou para esta a questão a partir da sua familiaridade com a língua.

Em Tarot — The Open Reading, ele descreve duas principais correntes que relacionam os arcanos maiores às letras hebraicas. Vale conhecer suas palavras, porque ajudam a recolocar o tema em perspectiva. Concordo? Não. Mas acho interessante.

Atualização em 2025: a obra está disponível em português desde 2020 como O Tarô de Marselha Revelado. Na ocasião, traduzi o texto do inglês com a autorização do autor, que foi extremamente solícito ao meu pedido. Acima marquei outro post em que abordo a relação entre letras e cartas, assim como o link para o Otiot, oráculo que criei em 2018 baseado exclusivamente nas letras hebraicas.

Tarot e letras hebraicas

Por Yoav Ben-Dov, em Tarot — The Open Reading

Muitos escritores, tanto da escola francesa quanto da escola inglesa, acreditavam que os 22 arcanos maiores correspondiam às 22 letras do alfabeto hebraico. Esta correspondência era significativa para eles porque os textos tradicionais cabalistas traziam vários significados espirituais e poderes mágicos para as letras hebraicas. No entanto, cada uma das duas escolas teve seu próprio critério para estabelecer essas correspondências.

Eliphas Levi e a tradição francesa

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Oswald Wirth Tarot

O fundador da tradição francesa, Eliphas Levi, combinou a primeira letra, Alef, com o Mago, a primeira carta deste naipe [os arcanos maiores são considerados um quinto naipe]. Levi também viu na forma do corpo do Mago, com um braço levantado acima e outro abaixo, algo semelhante à forma da letra hebraica Alef. Ele combinou a segunda letra, Beit, com a carta da Papisa (número 2) e assim por diante, seguindo a ordenação natural do alfabeto hebraico.

Esta correspondência cria outras relações interessantes entre as cartas e as letras, algumas das quais Lévi pode ter feito com conhecimento. A letra Caf foi associada à carta da Força. Caf, em hebraico, significa “palma [da mão]”, como as palmas que seguram o leão na lâmina. O Pendurado com a perna dobrada se assemelha à forma da letra Lamed. A letra Mem foi combinada com o arcano 13, que algumas vezes é chamado de Morte (maved, em hebraico). O Diabo tem Samech, a letra inicial de Samael, que é o nome do diabo em hebraico. O corpo e as pernas da figura caindo no lado esquerdo da carta da Torre são semelhantes à forma da letra Ayin.

Lévi também colocou o Louco em uma posição antes da última carta, combinando-o com a letra Shin. Esta é a letra inicial de shoté, que em hebraico significa “tolo”. Tav é a inicial de tevel, que, em hebraico, significa “mundo”.

A escola inglesa do Tarot

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Thoth Tarot

A escola inglesa de Tarot adotou um sistema diferente. Como a carta do Louco foi transferida para a parte superior [o início] do naipe, ele foi associado à primeira letra, Alef. O restante das cartas foi organizado conforme a sequência das letras, o que fez Beit corresponder ao Mago, Gimel (a terceira letra) à Papisa e assim por diante. Esta correspondência pode parecer estranha para aqueles que conhecem a Gematria, o tradicional sistema de numeração que atribui um valor a cada letra hebraica e que é muito importante na Cabalá. Por exemplo, Beit possui Gematria 2, mas no método da Golden Dawn corresponde à carta de número 1 [O Mago]. No entanto, os líderes da Golden Dawn adotaram este modelo assim mesmo. Mais tarde, Crowley [Thoth Tarot] promoveu outra modificação, trocando as letras do Imperador [Tsade] e da Estrela [Hei].

O resultado é que existem diferentes formas de adequar as letras hebraicas às cartas do Tarot. Isto é um pouco confuso, porque em muitos baralhos novos as letras hebraicas são escritas de forma explícita nas cartas. Como alguns seguem o sistema inglês e outros, o sistema francês, baralhos diferentes mostram diferentes letras para o mesmo arcano.

Uso em leituras pessoais

Em uma leitura livre sobre questões pessoais com o Tarot de Marselha, a questão não é tão importante, porque as letras hebraicas não aparecem nas lâminas. Portanto, o assunto pode simplesmente ser ignorado na totalidade. Ainda assim, os leitores que falam hebraico ou conhecem a Cabalá podem usar as correspondências como uma camada adicional ao significado das cartas.

Influência de nomes e talismãs

Por exemplo, há muitos que acreditam que o nome de uma pessoa tem uma influência sobre sua vida. Para entender a influência de um nome específico, podemos escrevê-lo em hebraico, dispor os arcanos correspondentes em fila e interpretá-los. Um método semelhante pode ser usado com combinações cabalísticas de letras que se supõe ter efeitos positivos. Fazendo deste modo, podemos criar um talismã de sorte formado a partir de cartas do Tarot. Alternativamente, uma carta ocupando uma posição importante em um método pode conter um significado específico, indicando uma pessoa ou local cuja letra inicial do nome possua a letra hebraica correspondente.

Escolhendo um sistema de correspondência

Se quisermos usar uma correspondência com as letras hebraicas, que sistema deve ser adotado? A escolha razoável seria seguir o baralho que estamos usando. Com o Tarot de Marselha e outros baralhos da escola francesa podemos usar o sistema de correspondências de Eliphas Lévi. Com baralhos da escola inglesa, como o de Waite, podemos usar o sistema Golden Dawn. Se você não sabe a qual escola o seu baralho pertence, uma boa dica é verificar os números da Justiça e da Força. Na escola francesa a Justiça é 8 e a Força é 11. Na escola inglesa é o contrário.

Trecho extraído do livro “The Marseille Tarot Revealed” (2017), também conhecido como “Tarot – The Open Reading” (2013), de Yoav Ben-Dov. Reproduzido com permissão do autor. Acrescentei subtítulos para melhorar a leitura e colchetes para informações aicionais.

Possam todos se beneficiar!

Destaque: Corte da carta da Temperança do Tarot of the Sephiroth.

Conteúdo revisado em 30/09/2025
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